Nena foi mãe de 7 filhos, dentre eles Mauro e Maurício, gêmeos univitelinos, muito parecidos, para não falar idênticos. Mauro e Maurício foram por muito tempo, quase, a mesma pessoa: MauroMaurício, como eram chamados. Apelido que veio, justamente, dos clientes da Tia Nena, os quais não sabiam quem era quem.
Esta dupla começou os negócios com a SANLIM, empresa de saneamento e limpeza, ambos com cerca de 18/19anos. O trabalho nesta época era o serviço de pintura, montagem de divisórias e limpezas em fachada de prédios, caixas d’agua e esgotos.
O serviço de MauroMaurício foi ficando conhecido, até que começaram a trabalhar na Abril. Por lá perceberam que os profissionais da comunicação não tinham uma boa opção de comida na região. Como a mãe dos gêmeos, mais conhecida como Tia Nena, sempre teve contato com a área da alimentação, veio a ideia: “vamos começar a vender refeições por aqui”.
Da barraquinha de lanches e cafés, o negócio foi crescendo e a família adquirindo outros pontos de cantinas na cidade de São Paulo. As localizações destas cantinas, em grande parte, estavam atreladas com as redações e os meios de comunicação.
Foi no meio da comunicação que a dupla conheceu grandes nomes, como Victor Civita, políticos, jornalistas, desenhistas, entre eles, Maurício de Sousa. Em uma madrugada de trabalho na Folha de SP, antigo Grupo Frias, no prédio da Barão de Limeira, Maurício passava noites desenhando suas tirinhas na redação. Logo pela manhã, Mauro levava refeições para o “almoço” das pessoas que passavam a noite trabalhando no local.
Para que as refeições ficassem prontas, diariamente, por volta das 3h30/4h do Nena separava em recipientes arroz, feijão, saladas e as proteínas. Mauro levava todos pratos e copos para a redação, pois não existiam produtos descartáveis naquela época.
Naquele dia, Maurício estava no mesmo andar em que Mauro entregava a comida. O desenhista, cheio de fome, se juntou aos demais colaboradores da empresa e provou a comida da Tia Nena. Foi assim que começou a história de carinho de Maurício pelas delícias da mãe de Mauro.
Pouco tempo depois, nos anos 80, a Maurício de Sousa Produções muda-se para a Lapa, juntamente com parte do Grupo Abril. E, adivinha quem já estava preparada com seu trailer no local? Se você disse Tia Nena, acertou!
Por outro lado, não pense que a história da família Sousa com a Tia Nena começa por aí. Mauro e Maurício iam muito para Caçapava, pois tinham parentes por lá. Nesta cidade tinha um maluco, cabeludo, barbudo, o qual todos chamavam de Boy. Nesta época eles tinham cerca de 15/16 anos e, de vez em quando, iam para Caçapava e encontravam o Boy.
Na semana em que a Maurício de Sousa mudou para a Lapa, Mauro encontrou o Boy sentado em uma das cadeiras do seu trailer. O “conhecido” disse que trabalhava na região, no prédio ao lado com o seu irmão:
- Olha, Mauro, mas aqui eu não sou mais o Boy não. Agora, você pode me chamar de Márcio de Sousa. – disse Boy, tranquilamente.
- Ah, Márcio de Sousa? Mas quem é o seu irmão? – respondeu Mauro.
- Meu irmão é Maurício de Souza. – respondeu Márcio. Tanto Mauro quanto Márcio, nem imaginavam o que viria à ser a Maurício de Sousa Produções.
Márcio era amigo fiel, estava todos os dias na Tia Nena. Com os olhos marejados, Mauro conta: “No final da vida do Márcio, 4 meses antes dele falecer, ele e o filho, Marcelo, passaram na Tia Nena”.
Desta vez, não era para comer as delícias as Tia Nena, mas sim para tomar a última cerveja com o amigo Mauro. “Estou me despedindo, indo embora, mas a minha vida foi muito boa. Estou dizendo tchau aos amigos e não quero tristeza!”, palavras que Mauro relembra com saudade, admiração e muita emoção.
Para a Tia Nena ele era o filho mais velho e rebelde, o qual dividia a sua atenção com os afazeres dos restaurantes. Para você ter uma ideia, todo final da tarde Nena fazia sua lista de compras. Os filhos, principalmente o Maurício, iam para o Ceasa ou mercados, faziam até 3 viagens para colocar tudo no Fusca, primeiro carro da família.
Troco? Tia Nena separava o dinheiro e troco para todas as lojas, lembrando que tudo naquela época era feito a mão. Outro ponto importante no seu negócio era o atendimento. Sua inspiração? Romão Magazine, localizada na Celso Garcia, onde Nena comprava sapato para os filhos.
Era na Romão Magazine que pensava sempre que precisava se referir ao atendimento, dizia: “Lembra do atendimento da Romão Magazine?”. Tia Nena queria que seus clientes fossem tão bem tratados como ela era na Romão Magazine.
Mais do que Tia, Nena era avó. O que esperar de uma mulher, apaixonada por pessoas e que, ainda, tinha netos? Para você ter uma ideia, naquela época, o chocolate Alpino era febre entre os netos da Nena, sendo este doce mais conhecido como “vitamina”.
Por lá, pegar os Alpinos “sem a avó perceber” era brincadeira. Os netos tinham certeza que estavam “enganando” a avó e que ela acreditava que os cobiçados Alpinos “sumiam” do Caixa. Nena seguia fazendo teatro, fingindo que não via os ataques do netos. “Mauro, chocolate roubado é muito mais gostoso”, foi esta frase que a mãe dizia ao filho durante os quase 12 anos que a “brincadeira” durou.
Nena se tornou cozinheira bem mais nova, por trabalhar em casas de vários imigrantes. Foram gregos, espanhóis e japoneses, os quais a receberam como empregada doméstica. Gerações e gerações foram criadas no pé do fogão, paixão que passou de mãe para filho e é cultivada com muito carinho por todos.
Foi em seu restaurante que Nena quis passar até os últimos dias. A Lapa foi o abrigo desta mulher até mesmo durante as fugas do hospital, onde, quando melhorava um pouquinho das suas questões no rim, pegava um táxi e descia na porta do seu restaurante. Mauro, você paga o táxi?
Memórias. É neste baú cercado de muita história que Mauro guarda as principais recordações da sua vida e do Tia Nena Restaurante. Mauro é personagem, caricato, simpático e colaborador que, agora, deixa os filhos de cabelo em pé. Sem dúvidas, quando vier nos visitar, reconhecerá, de longe, a figura do “Seu Mauro”, perambulando e conversando com todos os clientes do Tia Nena Restaurante, sua segunda casa.
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